segunda-feira, 2 de julho de 2012

"História do samba segundo Portela" - O Globo

reportagem publicada no Segundo Caderno de O Globo, em  01/02/2007
por Alessandra Duarte

          Portela ainda podia se chamar Vai Como Pode se não fosse um delegado cismar com o nome e exigir uma mudança. O causo de sambista foi um dos contados e cantados anteontem no auditório do Globo, que, em tempos de preparação de fantasias para o carnaval, homenageou um dos pioneiros organizadores das escolas de samba, com o musical "A história de Paulo Benjamin de Oliveira - o Paulo da Portela". Com um público de cerca de 300 pessoas, a apresentação fez parte do projeto Ciclo de Leituras, com apresentações de musicias abrindo os Encontros O Globo 2007, numa parceria com a Casa da Gávea.

Naná Nascimento e Leandro Nicolau, com Zezé Motta ao fundo, no espetáculo

Público canta 'Quem espera sempre alcança"
       Escrito por Wilson Machado e dirigido por Aduni Benton, o musical mostrou a vida e a carreira de Paulo da Portela, fudador da azul-e-branco. O Bota-Abaixo de Pereira Passos é um dos episódios da época do nascimento de Paulo que são apresentados pelo espetáculo, mini-aula de história sobre as primeiras décadas do século XX no Rio. "De repente, passamos a atrapalhar a beleza da cidade", diz o Paulo da Portela, jovem, que vive as histórias narradas), em referência ao fim dos cortiços da cidade na época.

       Daí, o musical pula para os 20 anos de idade do sambista, quando ele trabalha como lustrador de móveis e começa a ganhar fama com seus sambas, como "Conselho", que ele canta no espetáculo com amigos seus como Heitor dos Prazeres, ou "Quem espera sempre alcança", cantada junto pelo público. O fato de Paulo morar na Estrada do Portela foi o que fez o sambista ganhar o nome com que ficou famoso; suas maneiras e o jeito educado de falar lhe valeram o apelido de Professor. "Teste ao samba", um dos primeiros sambas-enredo, da Portela e do carnaval, no fim dos anos 30, mostrava, aliás, Paulo vestido de professor, distribuindo diploma aos outros integrantes da escola.

       O espetáculo, que termina com a morte de Paulo, mostra ainda os sambas nos vagões de trem da Central; o casamento de Paulo com Maria Elisa; a transformação da Vai Como Pode na atual Portela, na época em que as escolas precisariam se registrar para desfilar; e a saída do sambista da Portela, ao brigar com integrantes que quase o impediram de desfilar por ele não estar de azul e branco. A possível inspiração em Wald Disney em Paulo para compor o personagem Zé Carioca também está lá.
O musical partiu de uma projeto do sobrinho-neto de Paulo da Portela, o produtor musical Umberto Coelho Alves, que estava na plateia.

- É uma ideia antiga, desde 2003, quando foi centenário de Paulo. Cresci em casa ouvindo as histórias dele, do fato de ele estar sempre vestido, e do planejamento que ele trazia às coisas e à escola. Tentei resgatar um desses heróis que não são contemplados ela história. Ele podia ter sido só mais um compositor, mas queria fazer a cidade interagir com o samba, e pensava na escola de samba com uma maneira de fazer isso.
A mãe da diretora Aduni Benton, que é portelense, também assistiu à apresentação. Helena Bento, de 68 anos, foi levada à Portela pelo então marido, Reinaldo, pai de Aduni:
- Ele ajudou a construir a igreja de São José, em Madureira, junto com o Natal da Portela (personagem do musical), que eu conheci. Naquela época, a escola era num quintal, e quando chovia, não tinha samba.

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